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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Materiais Didáticos

Mônica Waldhelm*

Quando discutimos práticas pedagógicas, a questão da utilização dos materiais didáticos é extremamente pertinente. Afinal, todo professor reconhece a importância do material adequado para cada aprendizagem. O material, por vezes, representa o diferencial, entre uma atividade monótona e sem sentido e outra interessante e significativa para o aluno.

Que tipos de materiais são usados por nossos professores? O livro didático sai na dianteira e está presente na maioria das salas de aula. Ele representa um papel importante, mas muitas vezes distorcido, na prática pedagógica. No lugar de recurso, como apoio, o livro didático acaba por nortear todo trabalho docente e discente.
Os currículos escolares são, em muitos casos, reféns das coleções didáticas. Currículos lineares e fragmentados, planejamentos baseados nos índices e manuais do professor, atividades rigidamente disciplinares e mecânicas, são alguns dos entraves ligados ao mau uso do livro didático.

O professor deveria adotar o livro e não, ser adotado por ele. Além disso, o livro – como qualquer produção humana e, portanto, histórica – deve ser tratado criticamente, ter suas limitações respeitadas. O discurso dos livros didáticos não deve ser encarado como verdade absoluta, mas como objeto de análise e discussão por parte de professores e alunos.

A prática pedagógica no Ensino Médio deve ter por eixo os princípios da interdisciplinaridade, contextualização, construção de competências, estímulo ao protagonismo juvenil. Estes princípios devem permear o uso dos materiais didáticos.
No desenvolvimento de projetos, a pluralidade de atividades, tendo em vista o contexto problematizado e as competências a serem desenvolvidas, envolve o uso de diferentes materiais, ou diferentes usos para um mesmo material.

Mapas não devem estar restritos a aulas de Geografia. A Matemática no estudo das escalas e representações gráficas, as linguagens envolvidas, a produção de mapas com diferentes referenciais (históricos, econômicos, culturais) por parte dos próprios alunos ilustram a diversidade possível no uso deste tipo de material.

O trabalho de construção de competências de Representação e Comunicação nas três áreas do conhecimento coloca em destaque o uso de fotografias. Um resgate histórico-cultural da comunidade e da própria escola pode iniciar-se com uma exposição comentada de fotos trazidas pelos alunos, por pessoas da comunidade ou obtidas por empréstimo de alguma instituição.

O uso do portfólio também pode ser ampliado. Usado como registro da história de um projeto na escola, ou da trajetória de cada aluno, garante a memória do crescimento de cada um. Imagens, comentários e observações servirão de subsídios para o futuro. Seja para continuidade do projeto ou na avaliação das competências desenvolvidas pelo aluno. Um boletim com notas ou conceitos diz muito pouco do que foi a vida de um estudante na escola. Que atividades ele desenvolveu? De que grupos ou associações ele fez parte? Que eventos teria ajudado a promover? Quais intervenções foram realizadas por ele no grupo?

Uso de dicionários na aula de Biologia ("O que significa mesmo taxionomia? Há prefixos latinos nos nomes dos organismos e estruturas?"), microscópios e lupas na aula de Geografia ("Que sedimentos interessantes!"), calculadoras na aula de Sociologia ("Os dados obtidos nas entrevistas confirmam nossa hipótese!"), computadores na aula de Arte ("Acessar o site do MASP foi genial!"), vídeos na aula de Matemática (Geometria fica mais interessante com documentário sobre pirâmides egípcias!), flauta na aula de Física ("Acústica assim ganha outra dimensão!") e outras "transgressões" são possíveis e desejáveis no Ensino Médio que queremos.


A partir desta situação inicial, professores de diferentes áreas/disciplinas podem se articular para dar conta das questões que surgirem. Além das fotos de capas de revistas, vídeos com filmes, programas de TV, documentários, obras de arte, computadores e livros podem ser utilizados no trabalho.

Professores de Biologia podem investigar com seus alunos como distúrbios ligados à auto-imagem distorcida podem até mesmo levar à morte. Anorexia, bulimia, dietas da moda, uso de anabolizantes, cirurgias plásticas desnecessárias e excesso de exercícios físicos são problemas relacionados aos jovens e, portanto, extremamente significativos ao Ensino Médio.

A Educação Física, a História e a Arte podem trabalhar juntas na pesquisa da mudança de padrões ao longo das épocas e suas formas de registro pela pintura, pela escultura, etc., visando desenvolver a consciência corporal e a auto-estima do aluno.
A Geografia, a Sociologia e a Filosofia podem abordar o capitalismo e a mídia na produção de subjetividades hegemônicas e as implicações culturais e éticas envolvidas.

As Línguas Portuguesa e Estrangeira estariam articuladas com as outras áreas/disciplinas, na análise do discurso, no registro das observações e conclusões e na produção de material para divulgação.

Vejam como um material de fácil aquisição e de baixo custo (revistas usadas) pode desencadear uma atividade interessante e que, com certeza, favorecerá o desenvolvimento de competências e a ampliação do quadro de referências de alunos e professores.


Esta é uma lição importante quando repensamos o uso de materiais didáticos: o giz e a lousa não serão esquecidos, mas com criatividade não estarão mais sozinhos nas nossas salas de aula.
E nossa escola com certeza terá mais sentido, mais vida e sabor para professores e alunos.

Um comentário:

  1. Uma sugestão de material de apoio para as crianças menores no estudo da saúde bucal é o livro infantil: Golfinho tem dor de dente?
    No site http://naiabooks.com.br/professor/ veja as diferentes abordagens que a autora cita para enriquecer a exploração do livro.

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