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domingo, 18 de abril de 2010

Diversidade e Flexibilidade


Avelino Romero Pereira*


A LDB é clara, ao definir as finalidades do Ensino Médio. Dentre estas, lê-se: "o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico." (LDB, art. 35, inciso III)


Eis aí uma das chaves para a compreensão do papel dos sistemas educacionais, incluindo-se a escola e os educadores. Ou a educação escolar contribui efetivamente para que o educando se torne uma pessoa crítica e sensível, dotada de identidade e autonomia, ou seguimos insistindo em restringir a vida de nossos alunos – e a nossa própria – ao acúmulo de informações muitas vezes desconexas e a avaliações que quase sempre não expressam o processo de aprendizagem.


São portanto os conhecimentos e competências adquiridos na escola que dão sentido à afirmação da identidade. E eles não têm outra função que não seja a de permitir ao educando situar-se, isto é, compreender a si e ao mundo em que vive e agir com iniciativa e autonomia, como pessoa, como cidadão, como trabalhador. A saúde, a sexualidade, o lazer, as práticas religiosas, os relacionamentos afetivos, culturais, profissionais, o trabalho, o engajamento econômico, social, político e cultural nas questões de seu tempo e de sua comunidade, o exercício pleno da cidadania em seus direitos e deveres são os principais contextos da vida que interferem na construção da identidade de nossos jovens e são justamente aqueles que a escola deve acolher em seu esforço de contribuir e de se comprometer com essa construção.


Espírito crítico e autonomia intelectual são construídos, desenvolvidos, adquiridos em um processo de aprendizagem sistemático como deve ser o escolar. E essa aprendizagem, como toda e qualquer aprendizagem, não é a repetição mecânica no sentido professor-aluno. Ela ocorre também no sentido aluno-professor e aluno-aluno. O que instaura essa diversidade de sentidos é a convivência dos diversos dentro da escola.


Sem a interação social dentro e fora da escola, a qual implica a exposição do "eu" a vários "outros", o educando não chega a reconhecer corretamente a si e ao outro como pessoas distintas que se relacionam. O risco é formar sua identidade para si, isto é, egoisticamente, e apesar dos outros, isto é, autoritariamente. Por isso, a escola deve ser sempre e mais um lugar de conviver. E esta convivência precisa permitir o afloramento de tudo o que há de mais diverso, de forma democrática.


No direito à educação, por exemplo. Os educandos têm ritmos e estilos de aprendizagem diferentes. Se não levamos isso em conta e oferecemos a todos um mesmo "pacote" de conteúdos e práticas pedagógicas, dificilmente alcançaremos que todos aprendam tudo a que têm direito. Uns aprenderão mais ou mais rápido e os que aprendem menos ou mais lentamente acabam sendo penalizados, rotulados como fracassados, condenados à reprovação ou à exclusão da escola.


Quando quantificamos a aprendizagem em escalas numéricas de "0 a 10" e enquadramos os alunos em "graus", não estamos impedindo a diversidade de aflorar? Por que não reconhecemos que diferentes alunos possam estar num mesmo grau da escala? Por que muitas vezes insistimos tanto em que só haja uma resposta correta? Ou ainda por que não adotamos escalas diversas já que os alunos e as aprendizagens são diversos?


Enfim, a incorporação ao cotidiano da escola dos mais diversos elementos e recursos e ainda a melhor utilização dos próprios recursos existentes, inovando-se em seus usos, permite ao educando vivenciar constantemente a variedade de condições, o imprevisto e o novo, em permanente desafio à sensibilidade e à criatividade. Ninguém aprende a lidar com as mudanças do mundo vivendo um cotidiano escolar absolutamente igual, desprovido de sabor e regrado por um relógio com suas incríveis horas de cinqüenta ou quarenta minutos.


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