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segunda-feira, 5 de abril de 2010

A família tem que mudar!

A família tem que mudar, diz Içami Tiba!

Entrevista com Içami Tiba.

Para quem não conhece, e segundo informações da própria revista, ele foi eleito o terceiro principal autor de referência e admiração pelos psicólogos, ficando atrás apenas de Sigmund Freud e Carl Jung! Tem mais de 2 milhões de livros vendidos e mais de 3.300 palestras proferidas, além de 76 mil atendimentos psicoterápicos a adolescentes e suas famílias.


Colocações interessantes sobre educação e família. Leia e tire suas conclusões.

A educação também pode contribuir para uma sociedade mais equilibrada?
Içami Tiba: Sem dúvida. Se deixarmos o Brasil para os filhos que estamos desenvolvendo, estamos perdidos. As primeiras experiências que tivemos com os filhos no poder foram nas empresas familiares, que já praticamente sumiram, que eram de uma incompetência administrativa que culminava em falta de humildade e de querer aprender. É o que eu chamo de formação de príncipes herdeiros, e não empreendedores sucessores. Se essa juventude, que afundou famílias, assumir o governo, vai acabar de afundar o Brasil. Esses que aí estão já quase afundaram, aliás, já afundaram. O País está na contramão da educação. Países mais pobres formam alunos melhores do que nossos alunos de escolas particulares. Imagine como formam nossas escolas públicas? Acho que acertei no foco e tenho lutado muito nessa área.


Quais foram as dificuldades que o senhor encontrou para fazer as pessoas perceberem a importância da educação?
Içami Tiba:
Acho que a maior dificuldade é quando se esbarra em conceitos coletivos. Nós temos de cobrar dos filhos as coisas que delegamos, mas devemos cobrar também aqueles que delegamos o poder de nos representar. O choque começa a ser grande porque os próprios adultos pensam: "Poxa, vou nadar na contramão?". Pois é, se não nadar, não vamos melhorar o País. Temos de começar a agir. Esse cenário é pior do que qualquer outra dificuldade, porque deixo muito claro como os pais e professores podem trabalhar, pois eles não fazem porque não tem conhecimento. Com esse conhecimento, muitas famílias estão mudando e essas mudanças já estão dando resultados.

Qual a importância da disciplina na formação de um cidadão?
Içami Tiba:
Penso que existem coisas que dependem da gente e outras que dependem do relacionamento. Por exemplo: para que eu confie em você, é preciso que você corresponda aos meus pedidos e seja da minha confiança, caso contrário não posso confiar. Para ser da minha confiança, você vai precisar de disciplina para atender às minhas mudanças. As pessoas que não têm disciplina dificilmente atendem às próprias necessidades e às necessidades dos relacionamentos. Quanto mais disciplina houver, mais facilidade terá de levar um trabalho para frente. Estou falando num aspecto muito mais relacionado à qualidade de vida, de organização interna e de motivação do que propriamente o seguir regras. Quem seguir corretamente as regras simplesmente não vai conseguir viver, porque vai trabalhar pelo menos quatro meses só para o governo. É preciso perceber que não é só uma questão de fazer o certo. É preciso inovar, fazer diferente! A disciplina começa desde cedo e é uma qualidade desenvolvida, ninguém nasce disciplinado. Nascemos folgados. Se alguém faz o que eu deveria fazer, não faço nada e fico contente. Para ficar contente fazendo é preciso ter educação, mudar o ponto de vista do "espertinho". Divulgo a idéia que todo o folgado tem um sufocado embaixo. Os folgados não querem mudar, são os sufocados que têm que reclamar para mudar essa relação.

Isso não é uma questão cultural no Brasil, o "jeitinho brasileiro"?
Içami Tiba:
É isso que precisamos mudar, porque por esse jeitinho se estabelecem regras que não são cumpridas. Para os amigos, tudo. Para os inimigos, a lei. De repente, as leis servem só para atacar os outros e não só para que os outros cumpram. Esse sistema é muito afetivo. Eu gosto do afetivo, mas não acho produtivo para o Brasil.

A vida moderna dos pais de família, que envolve trabalho e carreira, tem atrapalhado o relacionamento com os filhos?
Içami Tiba:
Aí tem um viés que precisa ser analisado. Eles estão mudando o sistema de vida, mas não estão mudando o sistema de educação. Eles querem ter a mesma presença em casa trabalhando, mas isso não é possível. O trabalho compromete tantas horas que é preciso mudar o sistema de educação. Ninguém proíbe que os pais trabalhem, mas é preciso que, mesmo assim, cobrem mais dos filhos. Não se leva trabalho para casa? Então é preciso levar os filhos para o trabalho. Eles precisam se comunicar durante o dia, não adianta ficar fora o dia todo sem conversar e depois à noite ainda ficar sem saber o que aconteceu. Um dos grandes problemas da família está na mulher, que tem dificuldades de delegar certas tarefas. Se ela delega, se sente culpada. Temos de mexer no perfil de mãe, ela não pode continuar onipotente, achando que tem de cuidar dos filhos como se não trabalhasse. Hoje, chamamos elas de "working mothers": são as mães que trabalham e têm de ter outro estilo de vida. Não adianta agir como se o trabalho estivesse roubando o tempo dos filhos, e dinheiro nenhum é suficiente para compensar esta culpa, e vai acabar sobrecarregando as crianças com coisas materiais. Delegando o poder, as mulheres podem viver melhor e os homens também têm de mudar. Eles não ajudam em casa porque ainda consideram "coisa de mulher". Mas como isso? Esses homens têm de mudar também.

Qual foi a lição mais importante que o senhor aprendeu depois de tanto tempo em contato direto com as famílias e os adolescentes?
Içami Tiba:
O fato de lidar com adolescentes me obriga a me esforçar a ser entendido por eles. Preciso falar a mesma linguagem deles e, assim, incluir meus conhecimentos. Meu maior aprendizado foi: conversar na mesma condição. Quem sabe pode reduzir seu discurso para ser entendido por qualquer nível de pessoas. Quem decora as coisas não é capaz de fazer essa adaptação.

Entrevista concedida a "Revista Carreira e Sucesso da Catho On-Line", tradicional empresa recrutadora de pessoal.

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