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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Produção textual: As Tecnologias e o ciberespaço, a ciberpolitica e a ciberdemocracia.

  • Reflexão teórica sobre as discussões propostas por Levy e Castells sobre o ciberespaço e emergência de um novo tipo de sociedade na contemporaneidade.                                                                                                                                                 Por: Emília Souza Carvalho 

Os autores Manuel Castells e Lévy Pierre são grandes expoentes no campo de estudos da mídia cibernética, da compreensão dos fenômenos de comunicação e produção de informação e conhecimento. Fazem uma abordagem sobre o ciberespaço de forma que percebamos a influência da tecnologia em nossa sociedade contemporânea,
Ambos os autores, traçam suas percepções sobre o crescimento do ciberespaço, novo meio de comunicação que surge da interconexão de computadores e o consequente surgimento da cibercultura. Conforme destaca Levy “a cibercultura expressa o surgimento de um novo universal, diferente das formas que vieram antes dele no sentido de que ele se constrói sobre a indeterminação de um sentido global qualquer” (1999).
O ciberespaço de acordo com Levy tem sido um territorio fértil e indispensável na maioria das atuais áreas de trabalho, pois a técnica já se constitui como um elemento essencial na construção de conhecimentos e relacionamentos que vêm mudando completamente a maneira das pessoas pensarem, de se comunicarem, de conviverem umas com as outras e com o mundo, “considera que a cibercultura é uma nova forma de produção de sentidos, a partir do uso das técnicas”, pois é um territorio de construção de significados e ressignificados. 
Com o advento da internet de maneira geral funda-se o novo momento histórico em que a base de todas as relações se estabelece através da informação e da sua capacidade de processamento e de geração de conhecimentos. Assim, o ciberespaço é percebido como um fato concreto na contemporaneidade, onde se torna possível aprender e ensinar a partir dele, ou seja, a interação entre os usuários desse espaço é capaz de fazer com que eles não só adquiram conhecimentos, como também compartilhem esses conhecimentos.  A este fato Castells (1999) denomina “sociedade em rede”, que tem ícone da revoluçaõ, a apropriação da Internet com seus usos e aspectos incorporados pelo sistema capitalista.
Embora a linha de análise dos autores abordados siga caminhos diferentes, sendo Castells com uma abordagem marxista da sociedade capitalista e Lévy com um pensamento antropológico, Lévy (1998) utiliza a mesma analogia da “rede” para indicar a formação de uma “inteligência coletiva”, ao explicar o virtual, a cultura cibernética, em que as pessoas experienciam uma nova relação espaço-tempo. Neste sentido, estaríamos passando por um processo de universalização da cibercultura, na medida em que estamos dia-a-dia mais imersos nas novas relações de comunicação e produção de conhecimento que ela nos oferece.
Desta forma, a sedimentação social da Internet é a base da sociedade em rede, conforme indica Castells:

Ela originou-se e difundiu-se, não por acaso, em um período histórico da reestruturação global do capitalismo, para o qual foi uma ferramenta básica. Portanto, a nova sociedade emergente desse processo de transformação é capitalista e também informacional, embora apresente variação histórica considerável nos diferentes países, conforme sua história, cultura, instituições e relação específica com o capitalismo global e a tecnologia informacional. (CASTELLS, 1999, p.50).

Diante da difusão de tanta informação podemos dizer que estamos vivenciando a “era da informação”, pois, de maneira geral, constitui o novo momento histórico onde a base das relações se estabelece através desta informação e de sua capacidade de processamento e de geração de conhecimentos.
A Internet passa a ser compreendida como uma rede que congrega diversos grupos de redes. E essas redes não são apenas de computadores, mas também de pessoas e de informação.
Dentro da mesma lógica da rede, essa corporação forma uma nova cultura que Lévy denomina de cultura do ciberespaço, ou “cibercultura”:

O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p.17).

O fato é que a partir da década de 70, a informação e o conhecimento adquirem uma nova projeção social e econômica, na medida em que dentro de uma lógica de geração, processamento e transmissão da informação, as inovações e o conhecimento são a marca da sociedade contemporânea. É nesse espaço da cultura comunitária que as pessoas adquirem experiências das potencialidades do meio, em termos de percepção e de interação. O ciberespaço amplifica, exterioriza e modifica funções cognitivas humanas como o raciocínio, a memória e a imaginação.
Pierre Lévy em suas conjecturas acerca da nova relação que o Homem estabelece com o saber, agora que está imerso na cibercultura.

O que é preciso aprender não pode mais ser planejado nem precisamente definido com antecedência. [...] Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em ‘níveis’, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes ‘superiores’, a partir de agora devemos preferir a imagem em espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa posição singular e evolutiva (LÉVY, 1999, p. 158).

Neste sentido, o autor confronta a organização do sistema educacional e o papel do professor. Ambos devem levar em conta o crescimento do ciberespaço e o avanço da cibercultura. Para atender as demandas da atualidade o professor deverá deixa o papel historicamente construído de centralizador do conhecimento para se tornar um incentivador da inteligência coletiva, uma vez que o caminho que a internet nos sugere é sem volta, portanto, precisa ser compreendido, embora a cibercultura ainda não seja uma verdade universal.
De acordo com Rui Fava, autor da obra Educação 3.0, “os estudantes não são os mesmos para os quais o sistema educacional atual e, principalmente, as metodologias de ensino aprendizagem foram criadas” (2014). Os estudantes dos anos e décadas anteriores eram indivíduos isolados, enquanto os novos estudantes, mesmo dentro de um ambiente virtual, são mais conectados socialmente.
Nesta mesma perspectiva, JARAUTA e IMBERNÒN no capítulo: A escola contínua e o trabalho no espaço-tempo eletrônico, da obra Pensando no Futuro da Educação: Uma Nova Escola para o Século XXII, afirma em suas reflexões que é certa a existência de escolas no século XXII e, de forma decisiva, estabelecem que as instituições de ensino passarão por profundas transformações, embora as necessidades de seu público continuem as mesmas: educar-se e socializar-se. Essas transformações dar-se-ão, segundo os autores, até mesmo na estrutura organizativa da educação, com a nova realidade de espaço e de tempo que já se nos apresenta na aprendizagem promovida em ambientes eletrônicos.
Os autores lançam mão do conceito de tecnoescolas, ou e-escolas, que têm sua atuação baseada no uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs). As e-escolas são apresentadas como uma necessidade da sociedade pós-industrial e seriam a nova forma de oferecer e organizar a educação no século XXII.
Em relação ao futuro JARAUTA e IMBERNÒN afirmam que:

“ a escola do futuro não formará pessoas para trabalhar nas industrias, salvo uma parte, mas sim em setores relacionados à informação e ao conhecimento, isso porque também o trabalho será realizado cada vez mais no terceiro setor, como vem ocorrendo nas ultimas décadas”. (JARAUTA, 2015)

Em resumo, afirmam que “as atuais sociedades da informação emergiram e estão se desenvolvendo em um novo espaço-tempo social, o terceiro entorno” (2015). No “terceiro entorno”, ou espaço digital, não haverá amarras espaço-temporais, mas sim objetivos de aprendizagem preestabelecidos. As escolas trabalhariam em rede e ofereceriam formação contínua, sem idades preestabelecidas para acesso, rompendo a lógica industrial. Qualquer um poderia aprender onde e quando quisesse ao longo de toda a vida. Considera ainda a possibilidade de inclusão do lúdico na aprendizagem, o que, segundo ele, é um caminho ainda não muito explorado nos processos de e-learning.
No que diz respeito à informação, percebe-se que este foi o mais rápido período de transformação tecnológica que o mundo vivenciou. Em contraste, num período de poucas décadas, ocorreu a invenção e adoção das tecnologias digitais por mais de um bilhão de pessoas no mundo todo.

Conforme destaca Rui Fava:

Apesar da enorme utilização de tecnologias nenhum geração ainda viveu toda uma vida na era digital. Isso faz com que tenhamos que buscar novos paradigmas, novos modelos mentais, novos hábitos e, para isso, alguém tem que ceder e certamente esse alguém são os emigrantes digitais. Não há dúvidas de que os nativos digitais irão mover os mercados, transformar as indústrias e modificar a educação. Estas mudanças poderão ter um efeito imensamente positivo no mundo em que vivemos. A chegada da tecnologia digital já tornou este mundo um lugar melhor de se viver e, se deixarmos, os nativos digitais têm todo o potencial e a capacidade para impulsionar muito mais a sociedade. (RUI FAVA, 2012, p. 13).

A vida contemporânea passa a ser definida pelas novas sociabilidades e relações com o tempo e o espaço. Teremos à frente novos mecanismos de interação e de composição de uma identidade própria e múltipla, formação de grupos ou tribos, um novo espaço-tempo a ser experienciado, em que o espaço físico é praticamente eliminado e o tempo acelerado. Nessa perspectiva, o que amplia as possibilidades de construção da inteligência coletiva é o fato de os usuários da rede e seus grupos poderem compartilhar, negociar e refinar modelos mentais comuns.
As transformações advindas das tecnologias educacionais demandam novas metodologias de ensino, que contam com modernos suportes pedagógicos, capazes de criar um novo papel para o professor e ressignificar o conceito de ensino. Do mesmo modo, as novas exigências da sociedade atual levam as instituições de formação do professor a se reposicionar, para atender às diferentes metodologias, ao exercício da pesquisa no cotidiano da prática pedagógica, com respeito aos distintos saberes dos alunos.  
Desta forma uma das metas da contemporaneidade é a de incluir todo o mundo no “mundo digital”, pois, em questão as novas tecnologias a situação do usufruto das informações ainda persiste, portanto existe uma proposta de estratégia globalizadora, ou seja, todos devem ter acesso a toda informação e conhecimento que já circulam na Internet. Incluir os “marginalizados” nos benefícios que a economia mundial proporciona à informação.




REFERÊNCIAS:

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: Movimentos sociais na era da internet; Tradução Carlos Alberto Medeiros, 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar; 2013.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 7º ed, São Paulo: Editora Paz e Terra, 2003-a.
FAVA, Rui. Educação 3.0: como ensinar estudantes com culturas tão diferentes. 2. ed./ Rui Fava. Cuiabá: Carlini e Caniato Editorial, 2012.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
___________. Inteligência coletiva: para uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 2007.
 ______. A inteligência coletiva. São Paulo: Edições Loyola, 1998;
JARAUTA, Beatriz; IMBERNÓN, Francisco  (Orgs.). Pensando no futuro da educação: uma nova escola para o século XXII. Tradução de Juliana dos Santos Padilha. Porto Alegre: Penso, 2015.



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