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domingo, 18 de abril de 2010

Ensino Médio - Práticas Pedagógicas

O Novo Ensino Médio proposto pelo MEC sugere um currículo voltado para o desenvolvimento de competências, no qual a interdisciplinaridade e a contextualização permeiem a prática pedagógica. Educar para a vida, preparar para o mundo do trabalho, superar o "rótulo" de "antessala da Universidade": este é o papel assumido pelo Ensino Médio.

Neste novo contexto, formar alunos críticos, autônomos e protagonistas, instrumentalizados para múltiplas leituras e possibilidades de intervenção em sua realidade, é tarefa que exige esforço conjunto dos professores. Formados em sua maioria em cursos nos quais as dicotomias teoria/prática e ensino/pesquisa eram a tônica, nossos professores têm dificuldade para refletir, confrontar e reformular suas práticas pedagógicas. O que fazer? Como fazer? Esta angústia se reflete nas falas e na resistência à proposta de mudança.

PCNEM


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Os PCNEM trouxeram os princípios da interdisciplinaridade e da contextualização e propuseram um currículo cujo eixo fosse a construção de competências e a promoção da autonomia intelectual do aluno.
Nenhuma proposta na área educacional parte do zero. Ela toma por base conceitos, referenciais, práticas que se mostraram interessantes e adequadas, aqui ou em outros países.
É claro que a interdisciplinaridade e contextualização já deviam permear a prática pedagógica de muitos professores. Mas será que era uma prática coletiva, sistemática, matricial, organizada, intencional? Ou se revelava de modo pontual, por iniciativas apenas individuais? Os projetos partiam da problematização ou eram na verdade um conjunto de atividades inspiradas em temas? Está na hora de mudar este quadro.
Ao propor um Novo Ensino Médio, os PCNEM carregam a esperança de que isto de fato aconteça. Não por força de decretos. Mas pela reflexão e mudança da prática pedagógica.
Cabe a nós, professores, junto com toda a escola, tornar esta garantia legal um fato concreto. A autonomia intelectual dos alunos só é possível com a construção de competências. Este processo não é linear. Não segue a lógica dos pré-requisitos. Competências diferentes e com diferentes graus de complexidade exigem situações de aprendizagem diferenciadas. É papel do professor planejar e oportunizar a vivência dessas situações pelos alunos.

Diversidade e Flexibilidade


Avelino Romero Pereira*


A LDB é clara, ao definir as finalidades do Ensino Médio. Dentre estas, lê-se: "o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico." (LDB, art. 35, inciso III)


Eis aí uma das chaves para a compreensão do papel dos sistemas educacionais, incluindo-se a escola e os educadores. Ou a educação escolar contribui efetivamente para que o educando se torne uma pessoa crítica e sensível, dotada de identidade e autonomia, ou seguimos insistindo em restringir a vida de nossos alunos – e a nossa própria – ao acúmulo de informações muitas vezes desconexas e a avaliações que quase sempre não expressam o processo de aprendizagem.


São portanto os conhecimentos e competências adquiridos na escola que dão sentido à afirmação da identidade. E eles não têm outra função que não seja a de permitir ao educando situar-se, isto é, compreender a si e ao mundo em que vive e agir com iniciativa e autonomia, como pessoa, como cidadão, como trabalhador. A saúde, a sexualidade, o lazer, as práticas religiosas, os relacionamentos afetivos, culturais, profissionais, o trabalho, o engajamento econômico, social, político e cultural nas questões de seu tempo e de sua comunidade, o exercício pleno da cidadania em seus direitos e deveres são os principais contextos da vida que interferem na construção da identidade de nossos jovens e são justamente aqueles que a escola deve acolher em seu esforço de contribuir e de se comprometer com essa construção.


Espírito crítico e autonomia intelectual são construídos, desenvolvidos, adquiridos em um processo de aprendizagem sistemático como deve ser o escolar. E essa aprendizagem, como toda e qualquer aprendizagem, não é a repetição mecânica no sentido professor-aluno. Ela ocorre também no sentido aluno-professor e aluno-aluno. O que instaura essa diversidade de sentidos é a convivência dos diversos dentro da escola.


Sem a interação social dentro e fora da escola, a qual implica a exposição do "eu" a vários "outros", o educando não chega a reconhecer corretamente a si e ao outro como pessoas distintas que se relacionam. O risco é formar sua identidade para si, isto é, egoisticamente, e apesar dos outros, isto é, autoritariamente. Por isso, a escola deve ser sempre e mais um lugar de conviver. E esta convivência precisa permitir o afloramento de tudo o que há de mais diverso, de forma democrática.


No direito à educação, por exemplo. Os educandos têm ritmos e estilos de aprendizagem diferentes. Se não levamos isso em conta e oferecemos a todos um mesmo "pacote" de conteúdos e práticas pedagógicas, dificilmente alcançaremos que todos aprendam tudo a que têm direito. Uns aprenderão mais ou mais rápido e os que aprendem menos ou mais lentamente acabam sendo penalizados, rotulados como fracassados, condenados à reprovação ou à exclusão da escola.


Quando quantificamos a aprendizagem em escalas numéricas de "0 a 10" e enquadramos os alunos em "graus", não estamos impedindo a diversidade de aflorar? Por que não reconhecemos que diferentes alunos possam estar num mesmo grau da escala? Por que muitas vezes insistimos tanto em que só haja uma resposta correta? Ou ainda por que não adotamos escalas diversas já que os alunos e as aprendizagens são diversos?


Enfim, a incorporação ao cotidiano da escola dos mais diversos elementos e recursos e ainda a melhor utilização dos próprios recursos existentes, inovando-se em seus usos, permite ao educando vivenciar constantemente a variedade de condições, o imprevisto e o novo, em permanente desafio à sensibilidade e à criatividade. Ninguém aprende a lidar com as mudanças do mundo vivendo um cotidiano escolar absolutamente igual, desprovido de sabor e regrado por um relógio com suas incríveis horas de cinqüenta ou quarenta minutos.